Luandro

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O bonde dos sem-futuro"
O BONDE DOS “  SEM-FUTURO “


Um bonde é um meio de transporte, para mim, até poético. Pode ser anacrônico – segundo o que chamam de progresso. Por isso, foi retirado. Dores antigas da sociedade. Hoje, só os há em Santa Teresa.  Há outros, porém: os tristes bondes dos marginais: carros roubados que, como fantasmas da “violência”, em longas filas, atormentam as ruas dos subúrbios. Um constante desafio ao Poder instituído. O poder nas mãos erradas.
Quisera, portanto, estar falando dos bondes nos quais tantos romances começaram. Eles são um passado, nostálgico, mas tão belo que davam ao Rio um quê especial.
Não. Estou falando do segundo tipo. Encontrei esta expressão em frente de uma escola pública municipal, certamente, freqüentada por crianças ou que ainda deveriam ser crianças.
A letra parece ser de uma delas, embora de fôrma. Meu Deus, mas quem escreve isto? Não é qualquer criança ou, talvez, não mais o seja. Só o fator cronológico não diz nada. Só fere muito mais.
Essa expressão é a destruição da infância. Mais do que isso. É um grito de alguém que, não sei se participa desse “bonde”. Não importa, agora. O fato é que esculpiu na parede uma realidade assustadora. Não é o bonde das crianças apáticas, dos que pouco lêem ou daqueles cujos corações áridos necessitam de ser tocados e revigorados. Não.  Não acredito. São os que, por motivos tão profundos como as chagas sociais, cada vez graves, agrupam-se e, por atalhos perigosos, negam a si mesmos o futuro. Eles não têm consciência de que estão acabando com a esperança. Perdem-se. Muitos não chegam a adolescer. Misturam tudo: drogas, sexo e violência.  Estão no meio de uma tempestade. O sol para eles parou de brilhar. Lágrimas podem rolar, mas não bastam.
Quem vai resgatá-los? Quem lhes vai tocar os corações e arrancá-los desse “bonde” dos “sem-futuro”? Não é necessário  um projeto estrondoso, na área educacional. para verificar que  essa mensagem é mais do que um alerta. É um pedido de socorro do quem se perdeu, de quem  se está perdendo e de tantos que se perderão.
Não me conformo.  Eles deixam seus lares (alguns as têm) dirigem-se à escola. Ali, deveria ser a continuação de sonhos: o erguer do futuro. Mas, não. Encontram seres vazios, mentiras que os envolvem, em colegas, em falsos amigos, no apelo ao consumismo, na falta de afeto. Esquecem que fora desse “bonde” há pessoas que acreditam no melhor. . Mergulham na escuridão. Passos dados a esmo. Erros sem volta.
Sei que este não problema não é só do Rio. Há, entretanto, que fazer alguma coisa. Não é possível calar.  Temos de lutar.  Tem de existir uma luz. Não as trevas envoltas nessa expressão. Vamos, em comunhão, fazer uma nova manhã para essas “crianças.” Vamos tirá-las desse bonde, cujos trilhos estão corroídos pelo perigo, pela omissão de décadas, da família esgarçada. Esse bonde não chega a lugar nenhum.


Luandro
Enviado por Luandro em 25/01/2009


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