Carta a um estudante brasileiro
Querido menino,
Sim, querido menino, pois assim eu te chamava quando, há pouco tempo, quando ingressavas no nível superior. Sempre te pedi cuidado, assim como aos outros, para não te decepcionares. Hoje, com quase 21 anos, ainda és o mesmo garoto sonhador. Ante de tudo, obrigada por lembrares de tua ex-professora, que não esquece o rosto de cada um de vocês. Escolheste a carreira da História. Nada de errado com ela. És um pesquisador nato. O problema é com o que vês e sabes que poderia ser tão diferente no Brasil. Menino querido, mal começaste a sentir o gosto de tudo que está errado. Não é só a corrupção enraizada, frutificando como erva daninha, que se espalha sem remédio. Esperavas mais acertos, mais reformas que, há anos, dormem no Congresso, mesmo que digam que vão colocá-las em regime de urgência. Não te enganes. São palavras, enquanto o céu brasileiro se enche de uma cor não combina com este país. Anseias pela plenitude de caráter, quando não há caráter (salvo raríssimas exceções). Lembras de nossos debates em aula. Os homens que aí estão esqueceram do futuro. Só lembram de si mesmos. Suas glórias e conquistas estão sedimentadas no egoísmo e na mesquinhez, na pressa de verem resultados para o bolso. Dá pena ver a História se repetindo, eu sei. Como não lembrar do passado ou de figuras tão “carimbadas”? Como? Não dá para reprimir a preocupação. Nossas faces se enchem de vergonha com “o que nada acontece”. Aliás, só o bolso deles se modifica, sempre mais e mais. E povo? O povo (de)informado, não sabe que é o fator diferencial. Na verdade, é tanto o imediatismo que os fins não surgem da necessidade de bem representar ou de gerir. Os fins – é pena – de fato, servem aos meios. Que me perdoe Maquiavel! Queremos condutas-exemplo e não temos exemplo de conduta algum. Crianças continuam pelas ruas. Idosos continuam a implorar pela saúde, pelos seus direitos. E nada! A luta continua igual... Não! Se pensarmos que, a não ser jovens como você e uma plêiade de alguns outros, que são a exceção, a situação ainda fica pior. Por quê? Porque, meu querido menino, você teve família. No entanto, o que se vê é a família já esgarçada, incapaz de cumprir sua missão. Não há educação. Sem educação, o que esperar? Falo de educação no sentido mais amplo, aquela que faz brotar ideais e que te ensinou a ser cidadão. O povo – Ah, nosso querido povo. – ilude-se, ou melhor, iludem-no com “bolsas” e outros coisa, que atacam a febre, mas nunca a doença. Assim, é melhor de influenciar. O teu sonho, porém, não pode acabar. Pelo contrário, se puseres termo a ele, irás desdizer tudo em que sempre acreditaste e de que não deves - jamais – desistir.
Afinal, tu não te lembras da fábula do beija-flor. Ele trazia no bico gotas de água para apagar o incêndio. Era um nada. Contudo, fazia a parte dele. Portanto, é hora de pensar e refletir. Não podemos mudar ao sabor da teia vergonhosa que teceram e que campeia à nossa volta. Faz a tua parte. Se queres, a todo custo – eu também – que tudo se modifique, continua o teu caminho. Não abandones o teu sonho.
É bíblico que há tempo para tudo. Assim, se alcançares a tua meta, sem te desesperares ou corromper, serás mais um e – acredita – nem todos têm os olhos vendados. O teu filho será outro. Amigos, com o mesmo caráter, seguirão teus passos. Pode não ser já...
Não te esqueças, querido menino, que a Esperança foi a última a sair da caixa de Pandora. Abraça o teu sonho! Sua ex-professora Luandro
Enviado por Luandro em 03/01/2012
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