Luandro

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Muito Além das Estrelas

A chuva caía...
Numa grande avenida,
Aquele olhar me atraiu.
Não! Jamais o esquecerei!
Não posso!
Olhos de sombra feitos,
Olhos cheios do vazio,
Rodopiando pela cidade
Na derrubada dos sonhos,
Em mil cacos transformados.

Aqueles olhos secos,
Que, sem amor, estão
Como as cinzas,
Incapazes de chorar,
Para quê?
Ninguém vai parar
Para consolar!

São os olhos de uma criança,
Maltrapilha, sem banho,
Que conta todos os dias
Pela soma de seus medos,
Apenas uma menina, enredada nas
Trevas da injustiça social.

Menina-Criança!
Mais de oito anos não tens.
Mas com as vestes da esperança
Já queimadas, pela rua, pés descalços
Outros tantos pés acompanhas,
Sem rumo, na noite esquecida.

Criança- Menina!
Que nome tens?
Por que não respondes?
Precisas tanto de amor;
Só conheces, porém, todos os degraus
Da dor e da densa solidão.
Teus olhos, que outros
Olhos não veem,
Sem raízes, sem afeto,
Estão presos ao trampolim da vida,
Por finas partículas que
A gravidade reflete.


Menina-Criança!
O que pegaste no lixo?
Um bichinho de pelúcia,
Que, ali, fora jogaram.
Com ele queres brincar?
Nem vês que molhado está pela chuva,
Puído pelo vendaval,
Da falta de responsabilidade.
Agora, na tua alma, liberta,
Intrínseca lágrima contida
De alegria rola, sem se ver.

Criança-Menina
Tenta repousar, um finito porto encontrar
Portas não se abrem para ti,
A chuva continua e na calçada ficas,
Desprovida de casa e de abrigo,
Um papelão encontras. Teu cobertor.

Menina-Criança,
Com fome dormiste,
Mas a sonhar estás. Agora sorris.
Onde estás o sol dourado desponta,
Não! Não mais precisas acordar,
Sossega essa é a tua casa,
Tem a cor da paz,
Pelo desamor aí chegaste.
Não vês quem tem leva pela mão?
E diz: “Vim cuidar de ti.”
“Sarar teu coração”
É o Divino Mestre,
Ele, que tanto te conhece!

Criança-Menina,
Tens flores nos cabelos,
Na simplicíssima inocência,
Franzina, faminta, partiste.
Nasceste na morte,
Agora és feliz,
Nas profundezas do universo,
Muito... Muito além das estrelas.



- A uma criança, sem vida, encontrada,nas ruas!




Luandro
Enviado por Luandro em 10/01/2012


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