Luandro

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Um Exemplo de Solidariedade


Não é possível quantificar a solidariedade. Nunca será. Talvez um dos mais sagrados sentimentos que Deus nos legou. Quando partilhamos, quando estendemos a mão, incondicionalmente, sem olhar a aparência ou quaisquer outros fatores, encurtamos distâncias. Tornamo-nos melhores. Nosso interior se ilumina com um novo raio de sol e dele ninguém precisa saber. Não adianta a pseudo-solidariedade tão apregoada por certas áreas. Isso é utópico! Não atinge a plenitude e a grandeza de um ato solidário.
Ser solidário é tentar vasculhar o nosso inconsciente. Deveria estar para o ser humano na mesma proporção do ar que respiramos. È vida que a vida modificaria, se nos enlaçasse em um abraço universal. Cada palavra, cada gesto de um ser humano- assim Cristo ensinou- representará sempre um encontro transformador e a chama se propagaria, acabando com tanta dor e pobreza. Mas, o motivo deste texto é exatamente a falta desse sentimento.
Há poucos dias, já à tardinha, passando, no carro de meu filho, por avenida de grande fluxo de tráfego, em cujas cercanias já morei, percebi que, no meio dela, estava um cachorrinho, pequeno, rajado de amarelo e branco. Um bonito vira-latas que latia a todo instante, porém não se virava para nada. Seu ponto de atenção era o amigo, inerte, no chão. Fora atropelado. Não se mexia. Por isso, os latidos contínuos daquele pequeno animalzinho, por certo perdido ou abandonado – estava limpo e “fofo”, com o pelo sedoso – tinham um só foco: o ferido. Como se - em desespero – falasse: “Acorda!” “Levanta-te”. Não se limitava a latir. Lambia o pobre que permanecia no asfalto. Uma única presença amiga. Doçura divina, posta naquele animal solidário. Creio que Deus pôs, em outros seres, exemplos dos quais o ser humano se afastou. O respeito por quem - ou aqueles – que precisam de ajuda.
Paramos o veículo de forma a protegê-lo de outros que por cima dele (ou deles) passassem. Constatamos que cachorrinho, ensangüentado, deveria ter algumas fraturas. Olhos fechados, mas ainda respirava. O pobre amigo serenou. Com a cauda abanando olhava para nós e para o acidentado. Se falar fosse possível, talvez dissesse:
- Como está ele?
- O que vão fazer?
- Será que posso confiar?
Embora tão dócil e amistoso, não se afastava do atropelado. Por essa razão, pusemos os dois no veículo e fomos para uma instituição que faz um belo trabalho com os animais. O cãozinho atropelado tinha as pernas fraturadas e profundo ferimento na cabeça, além de hemorragia. O outro não era ele. A ela, demos o nome da quase lendária Lassie. Fizemos uma espécie de adoção, pelo fato de já contribuirmos para o trabalho que, ali, se faz.
Já tivemos notícias do outro, ainda sem nome e em tratamento. Salvou-se e está melhor.
Mas quem o atropelou? Será que, ao olhar cada amanhecer, não se lembra, num vitral ínfimo do tempo, que poderia ter enxergado com o coração. A solidariedade tem que estar em nós, emanar de nós. Devíamos ser como as folhas de uma árvore, sempre acolhedoras. Nós não fomos feitos para atos como esse: abandonar um pequeno ser, após atropelá-lo.
Mesmo sabendo que, no mundo, há mil assuntos diversos e piores, não consigo aceitar o ser humano assim.
Ficou-nos o raro exemplo de solidariedade de seres que chamamos de “irracionais”!

 
Luandro
Enviado por Luandro em 22/01/2012


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