Luandro

Muitas coisas para escrever...

Textos

LÁGRIMAS DIFRENTES
                                  Um gesto, uma palavra fazem a diferença. Vamos olhar e ver quem está à nossa volta.

A quem cabe julgar um suicida? Na sociedade consumista e que já sobrevive, mas . na qual,  poucos se detêm olhando para os seus irmãos, o ser humano é visto como engrenagem enquanto é útil. Portanto, será você, leitor, que "atirará a primeira pedera"? Não! Não creio.Então, muito menos quem  ora narra, embora tenha acompanhado o levantar-se gradativo do personagem. Só Jesus o vento e a tempestade pôde acalmar.
Para os humanos, há momentos tão devastadores que podem fazer soçobrar a própria fé. O barco da vida está em alto mar... Resistir é tudo que temos de fazer, mesmo com as nuvens mais espessas à frente. Ante a dificuldade, resta a humildade e a confiança no Senhor.
Quem passa por momentos em que tudo à sua volta parece ruir, só deles sairá se puder transformar-se em uma criatura nova. Do nada ressurge. Uma pessoa  conduzida por uma luz interior que vem do Criador, sem importar a religião. Nesse momento tempestuoso quem encontra as maravilhas do Senhor, para sempre as seguirá. Tudo se fará novo. Uma nova missão a cumprir.
Há muitos mistérios de uma vida vazia e frágil, sem encontrar ninguém que diga:"ESTOU AQUI PARA TE OUVIR." Hoje, isso é quase impossível.
Pessoas que sorriem por sorrir. Seres que, sem afeto e sem amor, sonâmbulos, enfrentam a luta diária. Alguns procuram a fuga do contato humano nos celulares, nas redes sociais. O  afeto parece algo virtual. Assim, uma pequena fagulha,  uma palavra - que na verdade são gotas de água que fazem o copo tranbordar (perdoem o clichê) dispara o desequilíbrio total e os faz mergulhar no mais completo desespero.
Se já enfrentavam a dor e o sofrer com dificuldades gritantes mas silenciosas, de repente alguém ou alguma coisa lhe tira esse tudo que é nada. Não raro, essas pessoas fazem os outros felizes. E, contudo “vivem por viver.” Não se completam. Ou nada as completa, pois sabem , mas ser amadas. Não o fazem. Fecham-se ao que justifica estarmos por aqui.Trancam-se nos porões perigosos do medo e esquecem de si mesmas.
Milhares de porquês aparecem ante o suicídio de alguém. Se deixam bilhetes ou cartas, estranhamente, logo os rotulam com palavras que todos conhecem. Aliás, não há espetáculo mais triste do que ver como se trata um suicida. O que aconteceu? Todos querem saber, mas um, em uma multidão, por verdadeiro interesse.  Não por mera e tola curiosidade de passar adiante o fato.
Em geral, são pessoas consideradas fracas - por desistirem de viver e matarem-se. Entretanto, o mais comum é dar-lhes o “diagnóstico” de não muito “ certas da cabeça.” Quando passam, ninguém lhes diz claramente o que pensa, todavia as olham e, baixinho, dizem o que delas pensam: doidas. Isto quando o fato se torna público. Porém, ainda que, no seio da família, não seja melhor. Passam a ser discriminadas. Não as convidam mais para conversas. Sua opiniões não têm credibilidade, ou melhor, sanidade. Há uma sensação estranha de as julgarem sem o fazerem, bem como de indignação e de inconformismo por alguém ter decidido acabar com sua própria vida, embora muitos tenham parentes com depressão ou bipolares, às escondidas,não se arriscam a dizer isso por vergonha.. Ninguém quer ter pessoas assim em suas relações afins. Até mesmo, nas mais abastadas, em geral, é esta chaga camuflada.
Esta grave questão tem outros rótulos médicos. Contudo, não se aborda de forma realística. Apesar de alguns já terem a coragem de dizer passei por depressão ou fulano é bipolar. São poucos, muito poucos que se interessam. Em verdade, não há quem queira, de fato, ter uma pessoa com distúrbios mentais por perto.
Porventura, serão sempre distúrbios. Ou a vida? Eis por que se criaram instituições anônimas até para ajudar a essas pessoas que gritam por socorro, perdidas na noite de seus dias. Por certo, não se pretende, aqui, discutir a questão médico-social. Porém, nunca vivemos tão aflitos e ansiosos. Foi apenas um comentário da hipocrisia que predomina, pois quem escreve visita hospitais e, não raro, atreve-se a falar com pessoas que não recebem visitas de ninguém, embora tenham recursos.
O que se pretende, aqui, é discutir: até que ponto se tem o direito de dizer o que se passa no coração de alguém, em sua alma. Quando o silêncio se torna substância e a esperança desaparece. Quando se olha para qualquer lado e, naquele momento, veem-se os mais altos rochedos, sem uma corda – pequena que seja – para escalá-los.De repente esse ser humano não passa de um pequeno grão de areia jogado a uma praia, que o vento pode levar – não é clichê. De que adiantara lutar tanto, não há, agora, um arbusto a que agarrar-se e isto, depois de muitas noites em claro à procura de saídas, enquanto, ausentes a tudo, seus familiares limitavam-se a mandar desligar a luz por estar incomodando.
Talvez a pessoa de quem ora se fala soubesse que seu amanhã seria outro ontem, não obstante o sol amanhecesse, mas isso só acentuava como se sentia profundamente só. Procurava a fé. Sentia-se errado. Culpava-se por tudo. Sua vida um monte de cacos, que não mais valia a pena colar. Não que tivesse vergonha de recomeçar. No entanto, a crueldade é grande para aqueles que caem. A propósito, quantas vezes Jesus caiu e impiedosamente o açoitaram.
O personagem deste texto, certamente errara muito, mas com ele próprio. Inteligente, preparado, tudo fazia, mas não soube amealhar para a época do temporal, pois nunca o esperou. Confiara demais. Humilhado por ser ele mesmo, por ter chegado àquela condição. Cansado de tudo. Ninguém o quer para qualquer função, a não ser que seja como eles. Que se associe ao que dele queriam. Trajetos que não quis percorrer, com marcas de sucesso e dor, sacrificou-se por amar o que fazia honestamente. De nada valeu. Uma vida para nada e por nada. Não consegue mais caminhar porque não há mais caminhos.
Romper o véu do desespero é impossível. Diante de si a noite desceu (perdoem a analogia a Carlos Drummond de Andrade. Todos – agora que sabem de sua queda- dele se afastam. Quando não o fazem claramente, querem pisá-lo e ferir o seu frágil coração. Seus olhos são escuridão e medo. No meio desse turbilhão, ele só quer alguém que o ajude a caminhar outra vez. Acreditar que no seu valor e não desistir dele mesmo.
Tentou vender cachorro-quente em uma estação do Metrô. Não sabia o quanto a concorrência era feroz. Em breve, não tinha mais lugar. Atiravam-lhe pedras e não dava mais tempo para juntá-las para fazer um castelo.
Que proveito tirara de sua obra. Afinal, há tempo para tudo. Naquele instante, ele não tinha mais tempo, esquecendo que Deus chama até os que passaram do tempo. Não ele não  era bipolar, esquizofrênico, não abusou do álcool ou outros. Ele estava errado em uma coisa: não sabia o tempo em que vivia: pesoas sós que não olham para o outro. Nem elas sabem que apenas repetem e repetem atos e ações, em uma felicidade erigida de relacionamentos, não raro, sem laços sólidos.
Ele semeara, plantara e a colheita fora levada e tudo isso o remetia à própria finitude da vida que o atormentava e que a mais ninguém - tampouco aqueles mais chegados - interessava. Ele era o "banco". A pergunta era a mesma: " O emprego? Enquanto tivera “status”, todos indagavam “como estava.” Agora, que o viam triste e desinteressado por tudo, nem queriam saber o que poderia estar acontecendo àquele criatura que chorava a viagem inteira, vivendo a provação, pensando somente em desistir, enquanto ainda tentava alternativas que não se consumavam. As lágrimas inundavam aquele rosto, no ônibus – o carro já vendera -, virado para a janela. Dava para ver que o pranto jorrava. Ninguém perguntava. Para quê? Por quê? Principalmente, por que perdera o emprego a que dera preciosos anos de sua vida, seus ideais. Passava, agora, momentos trágicos na vida pessoal. Estava cheio de dívidas... Isso não interessava a ninguém. Via um sorriso de criança e pensava por instantes em seu filho. De repente, tudo voltava. Propagava-se a tristeza. Não interessava, entretanto, a ninguém o trauma sofrido, fato disparador de tudo. Enquanto, ouvia as pessoas combinarem festas, encontros –  ele ansiava por um olhar. Alguém que, por instantes, a ele se dirigisse. Era a esperança perdida que teimava em resistir. Logo, porém, encolhia-se, e, amedrontado, seguia para casa.
Alta noite. Abria a porta. Ninguém acordado. Ele sabia que, segundo o que dizia sua religião seria punido se fizesse aquilo em que estava pensando. Delirava com essas expectativas. E falava consigo mesmo: - Vamos! Sua vida não passa de um erro. Enxergue! Ninguém te ama. Você foi na vida um brinquedo. Alma em cacos, fragmentada, sem mecanismos de defesa abalados e, por isso, “ pensava” em livrar-se de si mesmo, embora implorasse para ser resgatado. Portanto, há suicídios e suicídios.
Mas, sem forças, sem alimentar-se o dia inteiro, sem poder gritar ou esbravejar, deitou-se no sofá, tomou alguns comprimidos de ansiolíticos - não muitos, mas no estômago vazio, fizeram um vendaval. Depois, como não conseguia esquecer ou “ dormir” tomou outros. Nada demais.Por quê? Ele via a parede da sala que ele mesmo, alegre, pintara, a foto do filho. Repentinamente, tudo nublado...
Longe...muito longe parecia-lhe ouvir uma voz: - Estou aqui! Pega a minha mão! Não te abandonei. Na chuva tempestuosa de sua mente, ele só ouvia: - Pega a minha mão!
Depois disso, acordou em um hospital psiquiátrico, cheio de grades, com o mínimo de roupa, gélido. Agarrou-se às grades e pediu que o tirassem dali. Ouviu risos e comentários: - O maluco acordou (risos)...
No mesmo instante, ouviu novamente a voz do Senhor. Acalmou-se. E, como um pequeno animalzinho que encontra um carinho, aninhou-se no que chamavam de cama e esperou...esperou. Ninguém falava ou lhe trazia nada. Era louco, conquanto no seu interior – agora – houvesse Deus, que nunca o deixara, como nascente e caminho. O seu coração abrigava um fiozinho tênue – muito tênue – de esperança.
Um passarinho, vindo não sei de onde, naquele lugar gradeado, veio e cantou, como a dizer: - O seu coração será reconstruído.
A certa altura, a porta se abriu e um jovem, bem vestido, entrou com algumas roupas. Com nojo indisfarçável, sem um abraço ou demonstração de afeto, pediu que se vestisse e o levou para casa sem uma palavra.
Não era  mais  necessário. Aquele jovem, como tantos, não entendia... Mas, havia algo novo. Entregou tudo nas mãos de Deus. Pediu perdão e chorava lágrimas diferentes. Escreveria uma nova rota – modesta e com muitos atalhos, molhados de pranto e solidão - mas com Deus na direção. Descobriu, na tempestade, um novo tesouro. Sua fé pode tocar o céu.
Luandro
Enviado por Luandro em 21/06/2015
Alterado em 23/06/2015


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