UM ESPANTALHO
ESSA ESTRANHA FIGURA NÃO PASSA DE UM BONECO. É FEITO COM ROUPAS VELHAS. PODE SER – OU NÃO – RECHEADO DE TRAPOS, PALHA OU ESTOPA. EM GERAL, É COLOCADO NAS PLANTAÇÕES PARA AFUNGENTAR AVES. É MUITO ANTIGO. DIZEM QUE OS PÁSSAROS JÁ SE ACOSTUMARAM COM ELE. HOJE, EXISTEM MÉTODOS NOVOS. O QUE IMPORTA É QUE SIMULA A PRESENÇA DE UM HUMANO. É ESSE ATO QUE ME LEVA À COMPARAÇÃO QUE ME ATREVO A FAZER. EM DETERMINADO LOCAL EM QUE FICAVA BELA MANSÃO DE UMA ÁREA TIDA COMO CLASSE A – É TÃO TOLO DIVIDIR TUDO EM CLASSES - UM GAROTO ANDAVA PELAS RUAS. VESTIA UMA CAMISETA MUITO MAIOR DO QUE SEU TAMANHO. PARECIA, SEGUNDO DIZIAM, UM ESPANTALHO: UMA CAMISETA QUE LHE CHEGAVA AOS JOELHOS. SUAS CALÇAS: FARRAPOS PRATICAMENTE. OS TÊNIS, RASGADOS, MOSTRAVAM OS PÉS SUJOS. QUEM O VIA, SEM RUMO DEFINIDO, COMO TANTOS OUTROS ESPANTALHOS QUE ANDAM PELA CIDADE – NÃO SENTEM O CORAÇÃO TOCADO. ALGUNS DIZIAM QUE PARECIA UM CABIDE: ERA TÃO MAGRO. PARA QUÊ? POR QUÊ ? QUANDO SE ESTÁ FORA DO PROBLEMA, EM GERAL OLHA-SE SEM VER. A SENSIBILIDADE SE ESCONDE COMODAMENTE. NESSE MUNDO A GIRAR, FRENETICAMENTE, CADA UM, ENTRE MILHARES QUE CONHECE TODAS AS PEDRAS E CANTOS DAS CALÇADAS. UM, QUE BRIGA POR UM PEDAÇO DE PAPELÃO, OUTRI, QUE OLHA, CRIANÇAS, LIMPAS E VESTIDAS, EM FAMOSAS LANCHONETES, SOBRETUDO NAQUELE RECANTO DA CIDADE. FORÇAS PARA CONTINUAR. MOTIVOS PARA RECOMEÇAR. NÃO SEI ONDE AS ENCONTRAM. JÁ SE ESQUECERAM DE CHORAR. OLHAM COM OS OLHOS DE TANTA VIDA JÁ VIVIDA, SEM, PORÉM, A TER VIVIDO. CONTUDO, NAQUELE OLHOS, SE PROCURÁSSEMOS, HAVIA BUSCA DE TERNURA, MUITA TERNURA. O DONO DE UMA DAQUELAS CASAS IMENSAS, QUE POR SI MESMAS, DÃO A ENTENDER O PODER AQUISITIVO DE QUEM AS HABITA, CERTO DIA, DEPOIS DE FALAR COM A ESPOSA, RESOLVEU QUE PRECISAVA DE UM GAROTO PARA FAZER ALGUNS TRABALHOS. AO VER O MENINO PASSAR, O CHAMOU E PERGUNTOU SE ELE QUERIA. A RESPOSTA É DESNECESSÁRIO DIZÊ-LA. DEU-LHE, DO LADO DE FORA, DA RESIDÊNCIA, UM PRATO DE COMIDA E UM COPO DE ALGUMA COISA PARA BEBER. O MENINO AINDA QUIS LAVAR AS MÃOS. MAS, O HOMEM DISSE: - COMA LOGO! ELE ASSIM FEZ. A FOME O DEVORAVA. TENTOU AGRADECER, FALAR ALGUMA COISA EM GRATIDÃO, MAS ENTENDEU QUE ELE ERA NADA, E, COMO RESPOSTA: - DEIXA DE CONVERSA, VEM COMIGO. JÁ ERA QUASE NOITE. COLOCOU O GAROTO EM UM COLCHONETE NO CHÃO, EM UM LUGAR CHEIO DE FERRAMENTAS E OUTROS TRASTES. ELE ERA MAIS UM. - DORME AÍ. QUANDO TE LEVANTARES TIRA A GRAMA DO JARDIM, CORTA ISTO, LAVA AQUILO... ERA MUITA COISA. MAS, O GAROTO NADA FALOU. AGRADECEU, MAIS UMA VEZ,COM O OLHAR. BALBUCIOU ALGUMA COISA QUE A PREPOTÊNCIA DO HOMEM NÃO ESCUTAVA. MAS, É FÁCIL - SEM FAZER JUIZOS - ENTENDER O QUE FALARIA: - OLHA PARA MIM. SEM SABER. MESMO SEM SABER, ESTÁS FAZENDO A VONTDE DO CRIADOR, UMA EXTENSÃO DO AMOR QUE JESUS TANTO MANDOU QUE FAÇAMOS. O OLHAR AMISTOSO DAQUELA CRIANÇA - QUE MESMO ABRIGADA CONTINUAVA SUJA E IGNORADA - ERA O ROSTO VISÍVEL DO PAI INVISÍVEL. MAS AQUELE HOMEM ENVOLVIDO NO COTIDIANO DE SUCESSOS (PARA ELE), NÃO SENTIU ISSO. O GAROTO NÃO ERA IGNORADO, MUITO MENOS DIGNO DA RECEBER UMA PALAVRA AMIGA DAQUELE HOMEM BEM VESTIDO, CUJO PREÇO DAS ROUPAS QUE VESTIA, À VONTADE, NO SEU JARDIM, DARIA PARA ALIMENTAR MUITAS PESSOAS. CADA UM É DONO DO SEU CAMINHAR. POR MAIS QUE ELE TIVESSE NUNCA DEIXARIA DE QUERER MAIS E MAIS... O DIA MAL NASCERA, O MENINO FEZ TUDO QUE LHE FORA DETERMINADO. HORA DE ALMOÇO:NO MESMO PRATO – DE ALUMINIO QUE QUASE NÃO MAIS EXISTE E ALGUNS ANIMAIS DOMÉSTICOS TÊM VASILHAMES MELHORES – DERAM-LHE COMIDA. ENTRAR NA COZINHA DA CASA NEM PENSAR. NÃO FOI UMA REFEIÇÃO ACOLHEDORA. MAS, AINDA ASSIM, ELE AGRADECIA PELA BENÇÃO. FOI INDICARAM-LHE UM BANHEIRO DE UMA CASA QUE DEVERIA SER UM CASEIRO QUE PODERIA USAR. MAIS UM DIA, OUTRO DIA... DOIS MESES SE PASSARAM... CERTA VEZ, ENQUANTO CORTAVA A GRAMA DO BELO JARDIM PRÓXIMO À JANELA DO QUARTO DO DONO, OUVIU UMA CONVERSA. DEVERIA SER COM A ESPOSA DELE. ELA DIZIA: - DÁ-LHE, PELOS MENOS UMA ROUPA A ESSE GAROTO.ISSO FICA MAL PARA NÓS. ELE CONTINUA A SER UM ESPANTALHO. EU JÁ O VI LAVAR AQUELA ROUPA TANTAS VEZES QUE É QUASE UM TRAPO. ENTÃO, PAGA-LHE ALGUMA COISA. ELE PRECISA. ELE NÃO É SÓ AQUILO. AQUILO? - PARA QUE EU VOU FAZER ISSO, ELE NÃO PASSA DISSO, UM ESPANTALHO. ALIÁS, A PRESENÇA DELE ATÉ ESPANTA OUTROS. É CONVENIENTE. QUE DURA VERDADE. DERAM UM CANTO QUALQUER A UM ESPANTALHO PARA SE VEREM LIVRES DE "OUTRAS AVES HUMANAS SEMELHANTES." - COMO LHE DOERAM AQUELAS PALAVRAS. MAS, ELAS SERVIRAM PARA O RESGATAR DAS TREVAS. ELE NÃO ERA ESPANTALHO. OLHOU-SE EM UM PEDAÇO DE ESPELHO QUEBRADO. DEVERIA TER 13 ANOS. NÃO SABIA AO CERTO.HÁ TANTO TEMPO AO LÉO. NELE, PORÉM, NASCIA, UMA NOVA VERDADE. PODIA SER O PROTAGANISTA DE OUTRA HISTÓRIA. NÃO PASSOU A COLOCAR VESTES NOVAS. PROCUROU, ENTRE OUTROS VIZINHOS MAIS SERVIÇO. ALI ELE NADA RECEBIA. ERA TAL QUAL UM “ESCRAVO”, QUE NADA MERECIA. AOS POUCOS, GUARDOU UM POUQUINHO DE DINHEIRO. DEVERIA SER BEM POUCO. DEU PARA QUE COMPRASSE OUTRA CAMISA E OUTRA CALÇA. O TÊNIS, ELE RECEBERA, MAIS ALGUMAS ROUPAS DE UMA OUTRA PESSOA. - MAIS UMA VEZ, SEM QUERER, VOLTOU A OUVIR A ESPOSA DO DONO, PEDINDO QUE LHE DESSE OUTRAS ROUPAS E A RESPOSTA FOI A MESMA. ELE NÃO PASSA MESMO DE UM ESPANTALHO. NESSE MOMENTO, CAMINHANDO PELA FORÇA DE DEUS, TEVE UMA IDEIA. O DONO, DEPOIS DE ONZE HORAS, QUANDO ACORDAVA, FOI PROCURÁ-LO, ENRAVECIDO. NADA ESTAVA FEITO. ONDE ESTA ESSE ESPANTALHO? FOI ATÉ O LOCAL EM QUE DORMIA. VIU ALGUÉM DEITADO COM A CAMISA E AS MESMAS CALÇAS. É ELE. COMEÇOU A GRITAR. - LEVANTA – NEM O NOME DELE SABIA – POR QUE ESTÁ DORMINDO. PENSAS QUE AQUI É TUA CASA? NÃO HOUVE RESPOSTA. ELE RESOLVEU ENTRAR NO CUBÍCULO. AO MEXER NAQUELA ESTRANHA FIGURA, VERIFICOU QUE SE TRATAVA MESMO DE UM ESPANTALHO. O GAROTO CRIARA ASAS – ASAS DIVINAS. FOI PARA BEM LONGE. DE FATO, O ESPANTALHO ACEITOU O DESAFIO. MOSTROU QUEM ERA: OS PÁSSAROS NÃO FUGIAM DELE, APROXIMAVAM-SE COMO SEUS SONHOS. PROCUROU A CASA DE UMA TIA ESQUECIDA BEM LONGE NO SUBÚRBIO QUE O ACOLHEU. NÃO VOULTOU ÀS RUAS. HOJE DE ESPANTALHO ELE PASSOU A ALTO EXECUTIVO DE UMA EMPRESA E PASSA POR AQUELE HOMEM SEM SER RECONHECIDO. O ESPANTALHO ERA RAFAEL QUE SABIA, NO FUNDO DO CORAÇAO, QUE DEUS O AMAVA. ELE SÓ ATENDEU AO CHAMADO QUE TINHA DENTRO DE SI PRÓPRIO. Luandro
Enviado por Luandro em 30/03/2016
Alterado em 28/06/2017 |