NÃO ERA SÓ UM RÁDIO

MEU IRMÃO NÃO ERA DE FALAR MUITO.  PELO CONTRÁRIO, OBSERVAVA E SEUS OLHOS - MUITO VERDES - ERAM TRANSPARENTES. FALAVAM COM O CORAÇÃO. ERA O ORGULHO DE MINHA MÃE MÚLTIPLAS
RAZÕES.
ELE - NO TEMPO EM QUE A ELETRÔNICA ENGATINHAVA - JÁ ESTUDAVA POR CORRESPONDÊNCIA. ELE QUERIA MONTAR UM RÁDIO. ERA UM SONHO. UM SÍMBOLO DO QUANTO ELE QUERIA DAR À FAMÍLIA.
POUCO A POUCO, TRABALHANOD DE NOITE, NO QUARTINHO ONDE MORAVA, POIS FORA TRABALHAR COMO GARÇOM EM UM BAR, FOI - ESTUDANDO, ECONOMIZANDO E - ALGUM TEMPO DEPOIS - TINHA CONSEGUIDO O SEU OBJETIVO. ELE ESTAVA MUITO FELIZ E DIZIA QUE O RÁDIO SERIA DE NOSSA MÃE.
ASSIM FEZ, ELA CASOU-SE COM MEU PADRASTO PARA "TAPAR A BOCA DAS MÁS LINGUAS" E, LOGO QUE CONSEGUIU O BARRACO CEDIDO POR MEUS TIOS - O MAIS HUMILDE IMÓVEL QUE ELES TINHAM- TROUXE-ME PARA PERTO DELA.
NO PRIMEIRO DOMINGO DE UMA FAMÍLIA QUE QUASE NADA TINHA A NÃO SER A FÉ EM DIAS MELHORES, MEU IRMAO APARECEU COM SEU LUXUOSO PRESENTE: O RÁDIO QUE ELE FIZERA.
PARA NÓS ERA UMA RARIDADE, EMBORA JÁ EXISTISSE TELEVISÃO, SÓ MUITO MAIS TARDE, FOI POSSÍVEL ADQUIRIR  UMA.
AQUELE RÁDIO EMBALAVA MEU TRABALHO, ENQUANTO PASSAVA COM O FERRO A CARVÃO, ENGOMANDO CAMISAS TÃO ALVAS COMO A AURORA.
AQUELE RÁDIO FEZ-ME CONHECER LINDAS E ETERNAS MÚSICAS CANTADAS EM PROGRAMAS DE RÁDIO DE AUDITÓRIOS.
ERA AQUELE APARELHO QUE ME CONECTAVA COM O MUNDO DE QUEM IA À BIBLIOTECA PARA ESTUDAR PORQUE NAO HAVIA LIVROS E NÃO ERAM FORNECIDOS PELO GOVERNO.
MEU QUERIDO IRMÃO, AMAVA MÚSICA INSTRUMENTAL. HOJE, AO FAZER ESTE SIMPLÓRIO TEXTO - A ELE DEDICADO - AINDA OUÇO PAUL MAURRIAT E SUA ORQUESTRA A TOCAR.
OBRIGADA, QUERIDO MANO, VOCÊ DEVE ESTAR OUVINDO TUDO ISSO EM UM LUGAR MUITO ESPECIAL.