UM BOM HOMEM
UM BOM HOMEM
O DESTINO - DIZEM - ESTÁ SEMPRE ESCRITO NO LIVRO MÁGICO DO CRIADOR. MEU PADRASTO É A PROVA DISSO. ERA UM HOMEM ALTO E DOTADO DE EXCELENTE APARÊNCIA QUE, UM DIA, ENQUANTO MINHA MÃE TRABALHAVA COMO DOMÉSTICO, DEPOIS DE CHEGAR A ESTA TERRA, POR ELA SE APAIXONOU., .GRAÇAS A ELE, CALOU A BOCA DE TODOS, POSTO QUE NÃO MAIS PODERIAM DELA FALAR POR SER UMA MULHER SEM MARIDO (MEU PAI FALECEU QUANDO EU TINHA POUCO MAIS DE CINCO ANOS, EM COIMBRA, DE DOENÇA TERMINAL). ELE E MINHA MÃE FORMARAM UM PAR LINDO POR MAIS DE VINTE E CINCO ANOS. ELE A AMAVA TANTO QUE NADA FALAVA, AINDA QUE ELA, POR EXCESSO DE TRABALHO, NÃO RARO, FICASSE NERVOSA E COM ELE BRIGAVA. LOGO QUE SE UNIRAM FORAM MORAR NA PIOR DAS CASAS DE PROPRIEDADE DE MEUS TIOS: UM BARRACO DE MADEIRA NO ALTO DE ESCADA. ALI MINHA MÃE E ELE VIVERAM MUITO... MUITO FELIZES. ELE NÃO PRECISAVA, AO CASAR-SE. ELE PENSAVA QUE PODERIA OFERECER TUDO À ESPOSA. NO ENTANTO, POR SER BOM DE MAIS E O CAÇULA E HERDEIRO DA FAMÍLIA, OS IRMÃOS O CONVENCERAM A ASSINAR UM DOCUMENTO. ELE NÃO LEU E PERDEU TUDO. DE SOL A SOL MINHA MÃE LAVAVA E PASSAVA. E ELE ENTREGAVA AS ROUPAS COM O ODOR DE FRESCURA INCOMUM. SAÍA ÀS QUATRO DA MANHÃ PARA CUMPRIR SUA MISSÃO. DEPOIS DE ENTREGAR AS ROUPAS, IA PARA O SEU NOVO EMPREGO. DE PORTA EM PORTA, DEIXAVA LEITE E PÃO, EM UM TEMPO QUE SÓ ESTÁ NAS LEMBRANÇAS DA CIDADE E, PRINCIPALMENTE, DO SUBÚRBIO. EU AJUDAVA MINHA MÃE, NO INÍCIO, AINDA COM O FERRO A CARVÃO. NÃO ERA FÁCIL ENGOMAR CAMISAS DE UMA BRANCURA RARA. MAS, ERA NECESSÁRIO. PELO QUE FOI DITO, MINHA MÃE, DEPOIS DE TANTOS ANOS, LEVOU-ME PARA SUA COMPANHIA. MEU IRMÃO TAMBÉM TINHA O SEU LUGAR NA POBREZA DAQUELE LAR. MEU PADRASTO CONSEGUIU EMPREGO EM UM AÇOUGUE. A VIDA MELHOROU UM POUCO. PORÉM, PERCEBIA-SE QUE MEU PADRASTO GUARDAVA UMA MÁGOA PROFUNDA POR TER PERDIDO TUDO QUE CONSTRUÍRA ELE QUE FORA DONO DE VÁRIOS AÇOUGUES, TORNOU-SE EMPREGADO QUE, DE NOITE AINDA, SAÍA DE RAMOS PARA TRABALHAR NO BAIRRO DE FÁTIMA, ANDANDO BASTANTE ATÉ A CONDUÇÃO QUE FICAVA DISTANTE. O TEMPO PASSOU, COM SACRIFÍCIO, COMPRARAM OUTRA CASA, NA QUAL ELE TANTO TRABALHOU PARA REFORMA-LA. NÃO ERA SÓ ELE. ERAM TIOS, PRIMOS E MEU IRMÃO. CADA PEDRA, CADA TIJOLO TINHA O SUOR DE UM SONHO DE MINHA MÃE E DELE. QUANDO PASSOU A SABOREAR O QUE EDIFICOU, VEIO A DOENÇA E O ARRANCOU DO SONHO. A PRIMEIRA CIRURGIA FOI EXTREMAMENTE DELICADA, SOBRETUDO PARA ÉPOCA. NÃO FOI A ÚNICA. FORAM VÁRIAS E VÁRIAS. E ELE NUNCA PERDIA O SORRISO E O DESEJO DE EM UM JANTAR PODER BEBER UMA BEBIDA - UM POUQUINHO SÓ - DE QUE TANTO GOSTAVA. E EU LHE DAVA ÀS ESCONDIDAS. ELE ERA O AVÔ QUE MEU FILHO TINHA. A DOENÇA, ENTRETANTO, ALASTROU-SE. NO FINAL, ELE MAL FALAVA. INTERNADO, DEPOIS DE ANOS DE SOFRIMENTO, UM DIA ELE ME DISSE NO HOSPITAL (PARECIA QUE ELE SABIA...) - CUIDA DE TUA MÃE. EU NÃO PODEREI MAIS. NAQUELE DIA, ELE FALECEU E O CHÃO SAIU DEBAIXO DOS PÉS DE MINHA MÃE E - POR QUE NÃO? - DOS MEUS. TUDO MUDOU...
Luandro
Enviado por Luandro em 06/07/2020
Alterado em 08/07/2020 |